Pessoa, um reconhecido apreciador de pinga, também fez a sua incursão no rubayat. Esta forma poética encerra uma métrica especial quantitativa e uma rima preferencial a a b a, bem distinta, como é sabido, da utilizada por alguns poetas contemporâneos (ver, por exemplo, a poesia pública mas - tanto quanto sei - não publicada de um distinto correligionário bobby)
RUBAIYAT
O fim do longo, inútil dia ensombra.
A mesma esperança que não deu se escombra.
Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.
Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das coisas nos enlaça.
Sonhos; e a ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.
Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.
Mas de um e de outro vinho nada resta.
Fernando Pessoa